quarta-feira, 29 de julho de 2015

Ronda Poética / Cinza Dos Ossos - Poesia * Antonio Cabral Filho - RJ

CINZA DOS OSSOS
Antonio Cabral Filho
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Ronda Poética

Inútil querer iludir-me
Tentando transgredir
Os teus mistérios sombrios.

Não adianta vir rondar-me
Fingindo que não o fazes,
Não adianta esconder-se
Nas brincadeiras de Isabela
Espalhando brinquedos pelo chão,

Inútil arranjar-me um flerte
Com o olhar de morena fatal
De minha cunhada loura,

Também já é demais disfarçar-se
No meu cunhado barrigudo
Com um copo duplo de caipirinha
Chamando pra jogar sinuca
No bar do Gonzaga,
Que eu não caio nessa.

Inútil rondar-me
Com teus mil e um disfarces.
Vate guerreiro ou ninja, te espreito
De armadura e esgrima em riste.

Convence-te, que os teus
Mistérios eu conheço todos.
E esse pássaro
Pousado à minha janela...
Apelação não vale!... 

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quarta-feira, 22 de julho de 2015

Vidaval / Cinza Dos Ossos - Poesia * Antonio Cabral Filho - RJ

CINZA DOS OSSOS
Antonio Cabral Filho
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Vidaval

É a vida a vida é isso
Esse vendaval indócil
Que verga uns
E outros
Deita por terra sem piedade

E eu nesse vendaval
Não passo de um jornal velho
Que vejo voando
                                   voando
                                                        voando
sem rumo vida a fora

Agora estou nesse ponto de ônibus
E passa por mim um cão magro e rabujento
E o vendaval nos cobre de poeira e lixo
No monte de entulho
Um rato vasculha por alimento
E o vendaval o espanta
No arbusto à beira do valão
Pousa uma borboleta em busca de algo
E o vendaval chicoteia com os galhos
E fá-la ir embora vagueando

Uma nuvem de poeira cobre a cidade
Eu pego o coletivo e sigo
Por aí dentro da ventania
É a vida
                      Indócil
                                                   A vida é isso



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quarta-feira, 15 de julho de 2015

Prisioneiros / Cinza Dos Ossos - Poesia * Antonio Cabral Filho - RJ

CINZA DOS OSSOS
Antonio Cabral Filho
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Prisioneiros

O cerco está se fechando...
Quem puder safar, safe-se,
Que os outros vão divertir-se
Na arena dos infortúnios
Até que o fogo os devore
E a cinza de seus corpos
Repouse tranqüila sobre o passado 
Servindo de memória para o presente. 

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quarta-feira, 8 de julho de 2015

Tempo De Amar Em Silêncio / Cinza Dos Ossos - Poesia * Antonio Cabral Filho - RJ

CINZA DOS OSSOS
Antonio Cabral Filho
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Tempo de Amar em Silêncio

Chega o dia em que fitamos
Os olhos um do outro
E não conseguimos entender tudo
O que nossas almas espelham
Então pra não nos perdermos
Na confusão das entrelinhas
Afogamos em beijos e abraços
A nossa aflição
Pra ouvir melhor 
Os nossos sentimentos. 

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quarta-feira, 1 de julho de 2015

Anônima Vida / Cinza Dos Ossos - Poesia * Antonio Cabral Filho - RJ

CINZA DOS OSSOS
Antonio Cabral Filho
*
Anônima Vida

Não consto na vida que vivo
Vida de faz de conta vai levando
Que amanhã tudo se resolverá

Clandestinidade
 do corpo na carne dos dias
Vida sem barulho de passos
Passo sem ritmo e rumo
Levado no vendaval
Seguindo todos os mapas
Em quaisquer direções

Vida sem marca patente
No corpo de alguém
Que pode a qualquer momento
Alagar tudo em volta
De sangue incolor
E afogar todo mundo
Sem vestígio de crime 
Sem ódio nem compaixão. 

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